Asas

És-me a sombra,
o altar onde me ponho,
gume que me irá matar!

És poeta,
louco criador do sonho,
rito de sacrificar.

E eu sou sangue
derramado em desafio
de unir o sol à terra

O caminho
inseguro, escuro e frio
na passada de quem erra!

Mas se és vento
que me traz a liberdade...

Se fores o meu cheiro a mar

Serei lua
com aroma de saudade

terei asas para voar!

Alucinação

Escrevi-te em folhas soltas de papel
que, a sorrir, ofereci ao vento!
Moldei-te o corpo e rasguei-te a pele,
e deixei-te adormecer no pensamento...

Regaço

Eu já vi o mundo inteiro
já fui canela e jasmim
já fui nau e marinheiro
e... não me conheço a mim!

Já senti subtis odores
Margarida e Alecrim
já conheci mil amores
mas... não me senti em mim!

Tenho-te no rosto os traços
e um amar-te sem fim
eu já te dormi nos braços
tu sabes... eu sou assim!

A vida era tão mais simples se eu fosse diferente...
mas faltam-me asas para voar,
e a vontade de as fechar!

Subtil

Saiu de mim um rio,
procurou um mar inexistente,
caminhos que ainda não percorri...

saiu de mim um rio,
perdido em tempestade reluzente,
resultado da caminhada até ti...

indecisões,
indefinições,
és incerteza!

ilusões,
desilusões,
sou subtileza!