terça-feira, 21 de março de 2006

Espera


Hoje,
Por entre lágrimas de sangue
Pensei em desistir
De quê?
Perguntas tu, como a sorrir
Por saberes que mais nada há a perder

De sonhar!

Só me resta a alucinação
De um dia descobrir o fim da estrada
Mas sucumbo de exaustão
Caio por terra, esgotada

Já não há chão

E respiro
Num último folego de luz colorida
Mais um penso rápido na ferida
Que se recusa a ser cicatriz

Só mais um sorriso de alegria
Para encobrir toda a agonia
E vou à procura de ser feliz

Adio por mais um dia o cansaço
Dou nova máscara ao embaraço
Sou novamente uma alma exemplar

E espero em lassidão dormente
Que o sol que nasce para toda a gente
Amanhã me possa visitar!

sexta-feira, 10 de março de 2006

Eu sei que Homem és!

Não deixes que te calem as palavras,
Que te comprem os sentidos,
Que te levem a razão

Eu sei quão Homem és!
Conheço-te anos perdidos...

O tamanho que tu tens
É o do teu coração
E eu sei o quão grande és
E todo o mundo encolhido
Cabia na tua mão
Mesmo sem o teres pedido

Não deixes
Que te amarrem no silêncio

Podes ser quem tu quiseres
Não adormeças sózinho...vive!
Estejas tu onde estiveres
Teu coração bate livre!
Sopro

Aproxima-se...
Lenta e dolorosamente,
Perde a cor,
Adormece o sentimento,
Ergue a dor,
Aromatiza a sofrimento
O que outrora foi amor!
Amarra o corpo,
Leva a visão, esvazia a mente,
Pinga gotas de suor
De uma batalha dormente
Em que socumbo
Cansada, vazia, liberta,
Enfim só à minha sorte...
É mais uma porta aberta
A que os sábios chamam Morte!
Fiel Jardineiro

Perdi o tempo, o espaço, o meu abrigo
Chorei sózinha a minha mágoa, a nossa dor
Fui acolhida pelo conforto de um amigo
Que me deu um canteiro e me fez flor

O meu fiel Jardineiro!

Fiel a si, aos sentimentos e aos sentidos
Semeou no meu vento a tempestade
Sonhador perfeito de amores proibidos
Defensor incondicional dessa verdade

E na pura arte de semear
Plantou sorrisos no meu coração
Dou-te as palavras que te posso dar
Quando as não tenho...dou-te a minha mão!
Metamorfose

Quebram-se laços
Marcam-se fronteiras
Regressa-se ao passado, repetidamente
Cada riso e cada lágrima presente
Memórias ... armadilhas traiçoeiras!

Recomecei
Mas não consigo renascer do nada
E as cinzas reacendem, ganham vida
E a cada vivência repetida
O medo e a vontade de mão dada

Transformo a minha imagem no que sou?
Ou transformo-me naquilo que te dei?
O desejo e a paixão que não te dou
Pedaços de saber que rejeitei...

Quero e sei e ardo e asfixio
Medo, sangue, dor, angustia e frio!!

Desconheço a sombra, não há luz

E na cadência das prioridades
Não te desvendas, não és transparente
Perdes-me em verdades e verdades
De uma imensidão resplandecente

E na minha estável cobardia
Que eu nunca soube compreender
Prefiro a certeza à agonia
Se não te tenho...não te vou perder!
Personagem

Tábuas vazias que se enchem de vozes
Violentos passos em direcção a nada
Acendem-se luzes, pancadas atrozes
Como o raiar do sol na alvorada
Deixas esquecidas em papel antigo
Vozes adormecidas de quem já morreu
Abrem as cortinas e és tu comigo
Já não há limite entre o teu e o meu
Vives por momentos o que és em ti
Empresto-te o corpo e o sentimento
Se estás feliz a minha boca ri
Se te queres mexer eu sou movimento
Empresto-te o choro, a mágoa e a dor
São teus o meu corpo e a minha vontade
Dou-te os sentimentos, revolta e amor
E tu...és capaz de me dar verdade?

E aqui estou eu a libertar almas
Vivendo na pele o calor e o frio
E no fim do acto...e no fim das palmas
O regresso à noite, o vazio...
Quem és?

Hei-de contar-te em todas as palavras
Hei-de espalhar-te em memórias e ventos
Hei-de afogar-te em violentas vagas
Mas vou guardar-te em todos os momentos

Serás da lua uma chuva de prata
Do azul do céu serás o infinito
Em cada ferida és dor que não me mata
Mas que me arranha a voz a cada grito

Em cada sorriso vais ser luz
Cavalo branco e cavaleiro andante
Véu de mistério que envolve e seduz
Senhor da minha aura, meu amante

E se o meu sangue se juntar à terra
Na escuridão de não saber quem sou
À solidão vazia ganho a guerra
Transformarei em sonho o que te dou!

De que sou feita?

De memórias, de desejos
De histórias de encantar
De mil abraços e beijos
Que me obriguei a adiar

De sonhos tão coloridos
De escuras noites sombrias
De sorrisos, de gemidos
De angústias e de alegrias

Sou feita de tanto e nada
E tudo aquilo que vivi
É uma imagem apagada
Se não tiver fim em Ti!





Quem serás de novo?

Hoje juntas as palavras
Lês personagens que vivem sózinhos
Que se arrumaram em páginas
A quem destinaste um caminho
Não os deixas respirar
Toldas-lhes a visão, o brilho
Viver é mais do que amar!
Ser mãe não é ter um filho,
É ensiná-lo a sonhar!

Hoje segues as pegadas
Já desenhadas no tempo
Não soltas as gargalhadas

Deixa-me arrancar-te o véu
Que vestes em vez da cara
As nuvens não são o céu
O nosso tempo não pára
E tu, nunca foste meu
Nunca foste um corpo nu
Nunca foste um livro aberto
E para ti, já foste Tu?
Ou só andaste lá perto?